Para encerrar o nosso mês de comemorações de 15 anos da Doctors.House, trouxemos uma entrevista exclusiva com o Dr. Guy Colitti, fundador do nosso coworking odontológico. Confira a seguir!
Com mais de 30 anos na odontologia, essa profissão surgiu como um sonho?
Na verdade, não surgiu como um sonho, mas eu sempre tive muita vontade de fazer parte da área da saúde, atender e ajudar as pessoas. No caso da odontologia, ajudar em todas as questões de saúde e estética bucal. No começo, é tudo muito novo, principalmente nos primeiros dois anos de faculdade, no meu caso ainda faltava muito foco e comprometimento. Mas o grande divisor de águas aconteceu no terceiro ano da faculdade, quando começamos a atender pacientes, utilizando os equipamentos e realizando alguns procedimentos, etc.
No final do meu terceiro ano, um professor super respeitado, militar, muito rígido, chegou com uma caixinha em sala de aula e começou a retirar algumas fichas. Cada ficha tinha o nome do aluno, como “Doutor”, e continham informações sobre o desempenho dos alunos. No final, quando ele chamou “Doutor Roberto Colitti”, o meu primeiro pensamento foi “pronto, agora fui expulso da faculdade”. Mas pelo contrário. Ele disse naquele momento que eu tive a melhor performance na execução de trabalhos quanto à qualidade e quantidade, e me fez o convite para participar daquela disciplina como estagiário.
Isso foi bastante inesperado, mas com o tempo me acostumei com a ideia e acabei encontrando um maior foco com relação à profissão. O tempo passou, no final do curso acabei estagiando na área de prótese e logo após a minha formação, montei um consultório com mais três colegas e comecei a atender nesta área. Mas a tecnologia ainda era muito escassa nessa época, e a forma como as próteses eram feitas não faziam muito sentido para mim.
Eu continuei trabalhando na área industrial até quase meus 30 anos, mas fiquei muito frustrado com relação à odontologia. Eu não conseguia tirar nenhum tipo de alegria ou satisfação dessa profissão, o que me entristecia diariamente, até o ponto de pensar em mudar de carreira.
Por coincidência, um dos fornecedores da empresa, que era cunhado de um dos maiores ortodontistas do país, conversou comigo sobre essa frustração e ofereceu a oportunidade de conversar com o seu cunhado. De início eu neguei, pois não tinha muita afinidade com essa área, era a especialidade que eu menos gostava. Porém, em determinado dia, ele me disse que esse ortodontista estava esperando a minha matrícula do seu curso e eu acabei fazendo.
Qual não foi a minha surpresa quando eu me apaixonei totalmente pela área, tendo sido totalmente decisivo para a minha vida profissional.
Quando você começou a atender, quais foram os principais problemas que você enfrentava na profissão?
Eu acho que o maior problema que eu enfrentei é o mesmo que todos os dentistas precisam encarar: a vontade de ter o próprio consultório. Por esse motivo, me juntei com colegas de faculdade e montamos o nosso consultório em conjunto. Na época, e acredito que ainda hoje, o maior desafio é conseguir dinheiro para montar um consultório, e é um grande investimento.
Aliado a isso, também é necessário ter habilidade em atrair os pacientes e consequentemente, realizar os procedimentos e extrair os honorários. É importante saber que em um primeiro momento você não vai ter pacientes, e saber também que você não vai fazer só o que você gosta. É um momento de bastante insegurança e incerteza para os dentistas que estão começando.
Como surgiu a ideia do conceito da Doctors.House?
Como quase toda ideia disruptiva, a ideia da Doctors.House surgiu por uma necessidade. Na época, por volta de 2006/2007, quando começamos a desenvolver esse conceito, eu estava no auge da minha carreira. Eu tinha muitos eventos, muitas aulas que eu ministrava para a graduação e pós-graduação, entre outros., e juntamente com um colega, desenvolvi uma técnica nova em colagem de brackets e acabamos rodando o mundo ensinando essa nova prática, e com isso, eu passava menos tempo do que eu gostaria dentro do consultório.
Com isso, eu percebi que ter uma clínica grande demais é um custo muito alto, sendo que eu não usufruia de toda aquela infraestrutura. E o que decidi foi compartilhar aquele espaço, mas diferentemente da forma tradicional que os consultórios eram locados na época, eu queria proporcionar um padrão diferenciado para quem estivesse trabalhando conosco.
Começamos com uma sala, como projeto piloto, utilizando ferramentas que nós já conhecíamos. Como em 2006 nós lançamos um sistema exclusivo e totalmente online para a gestão de consultórios, centros de radiologia e universidades, (chamado OpenDoctor) pensamos em utilizar essas ferramentas administrativas para desenvolver a Doctors.House.. A ideia era trazer o conceito de centro cirúrgico para dentro da odontologia, proporcionando o melhor padrão possível para os dentistas.
Buscamos oferecer a melhor estrutura de serviços para dentistas, de forma a criar um padrão mínimo aceitável de qualidade e estrutura, da mesma forma que acontece na área da medicina. Nosso principal objetivo era entregar tudo pronto para o profissional, para que ele pudesse se dedicar 100% ao que ele sabe e gosta de fazer.
Aos poucos fomos entendendo as necessidades do profissional e hoje a Doctors.House é esse grande sucesso.
Por que trazer a economia compartilhada para a odontologia?
Eu acho que o principal objetivo, acima de tudo, é trazer uma estrutura e uma quantidade suficiente de serviços profissionais para o dentista. Diferentemente do aluguel convencional, onde o dentista aluga a sala e é responsável por todo o resto sem nenhum tipo de suporte, nós queríamos criar uma modalidade de locação que fosse mais completa para o profissional.
Da forma como o mundo estava e ainda está se transformando, principalmente com as mudanças trazidas pela pandemia, nós nos tornamos mais necessários do que sequer imaginávamos. O conceito de compartilhamento da forma que introduzimos no Brasil, trouxe a possibilidade de comprar horas de locação, e acabamos por lançar a odontologia sob demanda, não só no sentido de infraestrutura, mas como também de serviços, materiais e insumos.
Durante a pandemia, os dentistas tiveram uma queda enorme de atendimentos, e com a Doctors.House, ele não precisava mais continuar pagando por um consultório particular. Os insumos ficaram mais caros, assim como o aluguel de espaços e os serviços, fazendo do consultório particular, uma estrutura muito cara para o profissional. Quando você tem custos fixos e precisa lidar com os períodos de ociosidade, você está caminhando para a morte financeira.
Em 1994 eu tive a oportunidade de dar uma palestra no Congresso Americano de Ortodontia, que naquele ano aconteceu em Toronto, no Canadá. E lá eu conheci um hospital que montava um consultório particular dentro do próprio hospital para receber os profissionais de ponta para coordenar as suas equipes de perto. Dessa forma, caso acontecesse alguma emergência, esse profissional estaria à disposição sem a necessidade de deslocamento.
Atualmente, todo hospital do Brasil já conta com isso, mas na época, foi uma grande novidade para mim, o que me fez refletir. Todos esses conceitos de compartilhamento que são utilizados atualmente nos deixam muito felizes, pois mostram como a nossa solução veio de encontro com a evolução da sociedade. Gastar dinheiro com uma infraestrutura que está sujeita a ociosidade já não é a regra, e a economia de compartilhamento está em constante crescimento e é uma grande tendência.
Na época, o conceito da Doctors.House foi uma grande novidade, e hoje sentimos muito orgulho de ter começado antes Nos últimos cinco anos vários outros coworkings surgiram, oferecendo uma estrutura semelhante à nossa, e saber que o dentista vai ter acesso à uma infraestrutura completa para fazer e praticar a odontologia em alto nível é muito bom.
Quais foram os seus objetivos quando transformou a forma de atender?
Alguns desses objetivos eu acabei mencionando nas perguntas anteriores, mas tem um que é muito importante e eu ainda não falei. Quando se fala em coworking, nós sabemos que ter economia de custos, redução da ociosidade e infraestrutura completa são fatores muito importantes e tem um valor incrível. Mas a resposta a essa pergunta, um objetivo que eu sempre tive e quem está próximo a mim sempre me ouve falar, é que eu gostaria que os dentistas procurassem locais com essas características por conta de uma decisão inteligente.
O que mais acontece é que as pessoas procuram esse tipo de solução em uma situação emergencial, como a pandemia, ou porque encerrou uma sociedade, ou porque atuava em casal e aconteceu um divórcio… Se você notar, sempre tem uma “tragédia” envolvida. Eu gostaria que as pessoas entendessem que você não tem que esperar algo ruim acontecer para tomar uma decisão assim.
Quando você delega para as pessoas aquilo que você não é especialista, você está buscando qualidade de vida, tempo para passar com a família, praticar esporte, desenvolver um hobby… Você vai deixar de perder tempo com reformas, vigilância sanitária, questões trabalhistas, etc.
Eu gostaria que as pessoas entendessem que é importante tomar essa decisão antes que a tragédia aconteça, pois isso vai te ajudar a organizar e otimizar seu tempo. Se você notar, as pessoas que apresentaram um desempenho superior dentro das suas áreas são aquelas que dispõem de uma equipe gigante ao seu redor, para que ela possa expressar e desenvolver o seu talento.
Qualidade de vida tem que vir antes de necessidade financeira ou qualquer outra questão, e só assim você vai conseguir atingir os seus objetivos profissionais com amor e tranquilidade. A profissão está rodeada de fatores de estresse que podem impactar a qualidade de vida de qualquer pessoa. No meio da jornada, percebemos a importância que tem em se tomar essa decisão antes que surja um problema ou necessidade.
Quais os desafios que vocês enfrentaram para criar a Doctors.House?
Os desafios enfrentados pela Doctors.House foram os desafios que qualquer empresa enfrenta no começo, principalmente uma empresa que está criando um novo conceito e não tem onde buscar uma consultoria. Eu acho que isso foi o que aconteceu com a Doctors.House.
Grande parte do que fizemos nos primeiros anos foi por tentativa e erro, pois, por se tratar de um conceito totalmente novo, nós não entendíamos diversos aspectos, como: como seria o código de conduta, como o dentista se comportaria em uma empresa como essa, qual o nível de segurança necessário para a exposição dos materiais, etc. Mas esse tipo de desafio nos trouxe um modelo totalmente evoluído de saber como preservar os dentistas, servi-los e orientá-los da melhor forma.
O fato de termos dentistas atuando no espaço antes de criar a Doctors.House ajudou bastante na parte clínica. Diante de uma decisão que envolveu muita coragem e, de certa forma, imprudência, tivemos que acreditar e querer muito. Esses desafios vão aparecer para qualquer pessoa, e precisamos ter por norma o seguinte: ou você vê o obstáculo como uma forma de aprendizado e releitura ou simplesmente permanece na sua zona de conforto. Foi difícil por diversas vezes, foi necessário encontrar a forma certa de lidar com os dentistas e com os funcionários, estabelecer a forma correta de comunicação, aprender a lidar com o apego que muitos dentistas ainda têm de relacionar o sucesso com um consultório próprio, entre outros.
As pessoas não entendiam direito o nosso conceito, e foi necessário explicar como a gente funcionava e quais eram os objetivos. E nos últimos anos, precisamos aprender a lidar com os profissionais que se encontravam em uma situação de desespero. Mas tudo isso foi, e ainda é, encarado como um aprendizado e oportunidade de crescimento e amadurecimento, sem perder a integridade e sem perder de vista a importância que queremos desempenhar na vida desses colegas, fazendo a diferença na vida deles de maneira positiva.
Quais seus próximos planos para a Doctors.House?
De maneira simples, nós da Doctors.House queremos seguir os nossos próprios passos. Ou seja, sempre olhando para o hoje, dando o nosso melhor no aqui e no agora, mas com os nossos olhos voltados para o futuro. Como todo mundo sabe, as tendências e tecnologias podem se transformar muito rapidamente, como podemos ver com a internet, telefonia, automação, etc. É sempre importante se manter antenado com essas tendências que podem despontar e se manter atento àquilo que pode ser aplicado na nossa querida odontologia
Em 2019 a Doctors.House teve o seu melhor ano, tanto financeiro quanto executivo (atingimos cerca de 85% da nossa capacidade) e já estávamos pensando na possibilidade de expansão e criação de uma nova unidade por conta da nossa necessidade de espaço, mas logo foi seguido pela notícia da pandemia. Pensávamos em, ou expandir a nossa unidade atual com a criação de novos andares ou arrumar outras modalidades de expansão. Mas com os atuais acontecimentos, instabilidades e cenário político, acabamos perdendo cerca de 30% na chegada de novos dentistas e no número de horas compradas.
Nesse momento agradecemos por estarmos indo muito bem ainda, e estamos nos preparando para que, no momento em que a situação se mostrar mais adequada e o contexto mais favorável, darmos continuidade nos nossos planos de crescimento. Estamos muito felizes por estar fazendo o que nós fazemos no dia-a-dia, e não estamos ansiosos para o futuro. Isso porque nós temos a convicção de que se a gente continuar fazendo certo no momento presente, quando chegar a hora certa, o futuro será incrível.
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